A fila

Áureo Felipe Duarte

Hoje discute-se muito, na formação e no cuidado. A residência médica sempre foi compreendida como uma etapa fundamental da vida profissional: um período de intenso aprendizado e aprimoramento técnico, que prepara o médico para entrar mais qualificado no mercado de trabalho. Não se tratava apenas das 40 horas semanais regulamentares. Muitas vezes, buscávamos participar de cirurgias fora da residência, sem qualquer remuneração, apenas para ampliar a formação. Ainda hoje existem estudantes que fazem isso – e são justamente eles que estarão na frente da fila.


Sempre que sou questionado sobre a crescente natalidade médica, costumo responder que não importa se há 10 ou mil pessoas em uma fila: sempre existirão aqueles que estarão na dianteira. E esses serão os profissionais de excelência, porque se destacam pela dedicação, pelo esforço além do mínimo exigido, pela capacidade de fugir das limitações trabalhistas e da facilidade do cansaço. São aqueles que escolhem estudar e inovar não apenas no início da carreira, mas durante toda a vida.


Os demais permanecerão aguardando a fila andar, até chegar sua vez, esperando que alguém aponte qual lugar devem ocupar.


Coincidentemente, escrevi um artigo no Diário sobre esse tema. Nossos filhos, sobre até que ponto devemos protegê-los do mundo externo. Há uma linha tênue entre torná-los realmente seguros e, paradoxalmente, deixá-los inseguros quando precisarem dar seus próprios passos no mercado de trabalho ou enfrentar as responsabilidades do dia a dia, que, inevitavelmente, todos nós temos que assumir.


Carreira médica

Dentro da carreira médica, essa discussão assume contornos ainda mais intensos. Criou-se, principalmente no período de formação acadêmica, a ideia de que as faculdades de Medicina se tornaram excessivamente cansativas, com jornadas extensas e desgastantes. Essa crítica se acentua ainda mais durante a residência médica, onde muitos defendem que deve prevalecer um rigorismo trabalhista: o residente não poderia ultrapassar as 40 horas regulamentares, não poderia permanecer no hospital após um plantão, e deveria ser liberado assim que o relógio marcasse o limite legal do tempo de trabalho.


Essa postura, porém, soa estranha quando analisada sob a ótica do verdadeiro aprendizado. Ela corta momentos preciosos de formação e retira do futuro médico um elemento fundamental: o exercício contínuo e pleno da prática clínica. Ao escolher esta profissão, o compromisso do médico deveria estar acima de qualquer formalismo de horário ou de remuneração. Afinal, no momento em que se está diante de um paciente, não é o relógio que deve determinar o grau de dedicação, mas sim a necessidade de quem busca ajuda.


É preciso lembrar que a medicina se sustenta em princípios básicos: dedicação plena, disponibilidade e responsabilidade pelo bem-estar do paciente. Esquecer isso em nome de regras rígidas é fragilizar a formação do médico e, em última análise, comprometer a qualidade do cuidado oferecido à sociedade.

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